O “Tratado Da Verdadeira Devoção
À Santíssima Virgem”, escrito por São Luís Maria de Montfort, defende a tese de
que para se chegar a Jesus é preciso passar primeiro por Maria, pois “ela é o
meio mais seguro, fácil, mais rápido e mais perfeito de chegar a Jesus Cristo”
(n. 55). No Tratado, Maria é apresentada
com os seguintes atributos: “Toda-poderosa”,
pronta para traspassar seus inimigos” (n. 56), quem tem o mesmo poder divino
(n.74), advogada e medianeira (n.55), consumadora da salvação: “Por meio de Maria começou a salvação do
mundo e é por Maria que deve ser consumada” (n.49).
Os argumentos para tais afirmações acima mencionadas não têm
embasamento bíblico sólido, mas são baseados em alguns santos Católicos, como: São Bernardo, São Boaventura, Santo Agostinho,
santo Efrém, São João Damasceno, etc. A maioria das citações bíblicas do
Tratado foram interpretadas de forma forçosa e fora do seu contexto. Trata-se
de argumentos meramente racionais com premissas equivocadas.
Ao afirmar que “a devoção à Santa
Virgem é necessária a todos os homens para conseguirem a salvação” (39,1),
Montfort acaba negligenciando uma verdade fundamental da nossa fé, a saber:
Jesus é o único e suficiente para nossa salvação. Ele é a porta quem salva as ovelhas (Cf. Jo
10. 9). Eu não preciso de janelas devocionais em honra a Maria para minha
salvação. Jesus foi claro: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Ninguém vai
ao Pai senão por mim (Jo 14. 6). Portanto, não há necessidade de atalhos fáceis
para nossa salvação quando descobrimos O CAMINHO, quando conhecemos a verdade
que liberta (Cf. Jo 8. 32), quando reconhecemos que “há um só Deus e um único
mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem que se entregou para
resgatar a todos” (1Tm 2.5). A Palavra é clara: Um só mediador para a
salvação. Não preciso de Pedro, José,
Maria, João. Paulo diz ainda: “Em Cristo vocês têm tudo de modo pleno” (Cl 2.10).
Luís Montfort comete um equívoco
quando coloca como pressuposto essencial para conhecer Jesus o conhecimento de
Maria: “Meu coração ditou tudo o que acabo de escrever com especial alegria,
para demostrar que Maria Santíssima tem sido, até aqui, desconhecida, e que é
esta uma das razões por que Jesus Cristo não é conhecido como deve ser” (n.13). O conhecimento de Jesus acontece pelo
encontro pessoal com o mesmo: “Se vocês me conhecem, conhecerão também o meu
Pai” (Jo 14. 7). Quer conhecer Jesus? Quer ser discípulo dele? Quer ser
liberto? A estratégia não é o conhecimento de Maria, mas conhecer e guardar sua
Palavra: “Se vocês guardarem a minha palavra, vocês de fato serão meus
discípulos; conhecerão a verdade, e a verdade libertará vocês” (Jo 8. 31-32). Uma devoção vivenciada erroneamente pode até
afastar as pessoas de Jesus. Portanto, não é o desconhecimento de Maria razão
do não conhecimento de Cristo, porque assim, a mensagem da pregação principal
do Evangelho não seria o anúncio de Jesus, mas de Maria, já que ela deve ser
conhecida primeiro.
O Tratado de Montfort é carregado
de raciocínios de difícil compreensão, podendo assim, gerar confusão na mente de
muitos cristãos que não têm conhecimentos maduros da sua própria fé, levando-os
ao ofuscamento da pessoa de Jesus. A fé cristã verdadeira é Cristocêntrica. Por
isso, “ninguém pode colocar um alicerce diferente daquele que já foi posto:
Jesus Cristo” (1Cor 3.11). Qualquer devoção, por mais bem intencionada que
pareça, deve ser questionada, revisada, criticada quando não é construída na
pedra fundamental da fé em Jesus anunciada pela Igreja primitiva. As afirmações
dos santos católicos sobre Maria não são verdades reveladas, mas meras
opiniões. Por isso, podem ser questionadas.
DESTAQUES DE ALGUMAS AFIRMAÇÕES
“Ainda não se louvou, exaltou, amou e serviu suficiente a
Maria, pois muito mais louvor, respeito, amor e serviço ela merece” (n.10).
“Tal é a vontade de Deus, que tudo tenhamos por Maria (...)”
(n.25).
“Assim como na geração natural e corporal há um pai e uma
mãe, há, na geração sobrenatural, um pai que é Deus e uma mãe, Maria Santíssima
{...} “e quem não tem Maria por mãe, não tem Deus por pai” (n. 30).
“O desejo de Deus Filho é formar-se e, por assim dizer,
encarnar-se todos os dias, por meio de sua Mãe, por seus membros” (n.31).
“Se Jesus Cristo, o chefe dos homens, nasceu nela, os
predestinados, que são os membros desse chefe, devem também nascer nela, por
uma consequência necessária. Não há mãe que dê à luz a cabeça sem os membros ou
os membros sem a cabeça: seria uma monstruosidade da natureza” (n. 32).
“Maria produziu, com o Espírito Santo, a maior maravilha que
existiu e existirá- um Deus-homem” (n.35).
[...} “a Santíssima Virgem, sendo necessária a Deus, (...) é
muito mais necessária aos homens para chegarem a seu último fim” (n.39). “A
devoção à Santa Virgem é necessária a todos os homens para conseguirem a
salvação” (39,1).
“A verdadeira devoção à Santíssima Virgem consiste em se lhe
devotar e entregar. O culto de dulia é a dependência, a servidão [...]; o culto
de hiperdulia consiste numa dependência mais perfeita à Santíssima Virgem, ou,
em outras palavras na escravidão preconizada por São Luís Maria de Montfort”
(n.40).
“Só Maria achou graça diante diante de Deus (Lc 1, 30) sem
auxílio de qualquer outra criatura. E todos, depois dela, que acharam graça
diante de Deus, acharam-na por intermédio dela e é só por ela que acharão graça
os que ainda virão” (n.44).
{...} “o Altíssimo a fez tesoureira de todos os seus bens,
dispensadora de suas graças, para enobrecer, elevar e enriquecer a quem ela
quiser, para fazer entrar quem ela quiser no caminho estreito do céu, para
deixar passar, apesar de tudo, quem ela quiser pela porta estreita da vida
eterna” (n. 44).
“A Maria somente deus confiou as chaves do celeiro do divino
amor, e o poder de entrar nas vias mais sublimes e mais secretas da perfeição,
e de nesses caminhos fazer entrar os outros” (n.45).
“Por meio de Maria começou a salvação do mundo e é por Maria
que deve ser consumada” (n.49).
“Advogada e medianeira junto de Jesus Cristo” (n. 55).
“Jesus Cristo, nosso salvador, verdadeiro Deus e verdadeiro
homem, deve ser o fim último de todas as nossas devoções; de outro modo, elas
serão falsas e enganosas” (n.61).
“Antes do batismo, éramos escravos do demônio; o batismo nos
fez escravos de Jesus Cristo” (n.73).
“Tudo o que convém a Deus pela natureza, convém a Maria pela
graça, dizem os santos. Assim, conforme este ensinamento, pois que ambos têm a
mesma vontade e o mesmo poder, têm os mesmos súditos, servos e escravos”
(n.74).
“A Santíssima Virgem é o meio de que Nosso Senhor se serviu
pra vir até nós ; e é o meio que devemos nos servir para ir a ele” (n.75).
“Tudo o que temos em nosso íntimo é nada e pecado, e só
merecemos a ira de Deus e o inferno eterno” (n.79).
“A sabedoria infinita, que não dá ordens sem motivo, só
ordena que nos odiemos porque somos grandemente dignos de ódio: só Deus é digno
de amo, enquanto nada há mais digno de ódio do que nós” (n. 80).
A devoção deve levar ao “aniquilamento do próprio eu” (n.
82).
“Temos necessidade de um medianeiro junto do próprio
medianeiro que é Jesus Cristo” (n. Art. IV).
“Para mais perfeitamente bendizer a Jesus Cristo, cumpre
bendizer a Maria” (n.95).
“Começar, continuar, e acabar todas as ações por ela, nela,
com ela e para ela, a fim de fazê-las por Jesus Cristo, em Jesus Cristo e para
Jesus Cristo, nosso ultimo fim” (n. 115)..
Entre as praticas externa da devoção em nenhum momento sugere
a leitura da Bíblia. Manda fazer imagens e colocar nas Igrejas e casas
(n.116).
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Lúcio Rufino Pinheiro