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quarta-feira, 13 de junho de 2018

BRASILEIRO, SOFREDOR, ACOMODADO

Meu nome é Brasileiro Sofredor Acomodado. Nasci numa terra chamada Brasil. Na minha terra é uma maravilha: As pessoas entram pobres na política e saem ricas ou milionárias. No meu país, Juízes ganham acima do teto permitido, tem mansões e ainda fazem protestos pelo privilégio do auxílio moradia. Mas eu concordo, pois eles estudaram, são doutores. As pessoas da minha pátria amada, brigam por futebol, mas não por direitos como: educação, salário justo, saúde e transporte de qualidade, segurança. No meu país, os políticos vivem como semideuses no seu "monte olimpo de mordomias". Agora, eles vão passar a ganhar uma bolsa para financiamento de suas campanhas políticas. Mas eu acho bom, porque assim ganharei muito mais com a venda do meu voto. Na última eleição, troquei meu voto por uma grade de cerveja. Na próxima vez serei mais esperto, trocarei meu voto por uma TV de tela plana para assistir o Big Brother Brasil, um programa muito cultural, e os jogos do meu time de futebol preferido.
Estudei pouco. Não gosto de ler. Considero desnecessário pensar sobre a realidade do meu país. Aliás, para que pensar se o Jornal Nacional diz o que é certo e decide o que tenho que fazer? Eu acho o máximo ser manipulado.
No meu país, o povo vive em uma cotidiana "sofrência". Adoro sofrer. Quanto mais o governo machuca, maior prazer eu sinto. Não é por nada que minha mãe deu-me o sobrenome de "Sofredor" . Até que nós não estávamos sofrendo muito. No entanto, certo dia, nos convenceram que era preciso protestar contra a corrupção. Não gosto de participar de manifestações públicas, prefiro ficar em casa curtindo e compartilhando fotos nas redes sociais. No entanto, para essa eu fui. A Rede Globo me convenceu que existia uma crise, que os "petralhas" estavam destruindo o meu país, que a presidente tinha quer ser retirada do cargo, porque praticou pedaladas. Até hoje não entendi esse negócio de pedaladas. Só sei que foi uma maravilha cantar o hino nacional com aquele povo repleto de ódio e desejoso pelo fim do partido político que garantiu aos pobres e negros o direito de entrar na universidade pública, que diminuiu a fome, que criou direitos para as empregadas domésticas, que permitiu ao pobre comprar carro e andar de avião. Mas eu sou contra essas políticas sociais, porque pobre tem mesmo é que sofrer.
Tudo isso é passado. Estou gostando do meu mau velhinho presidente. Ele é cruel: Retirou direitos dos trabalhadores, diminuiu os investimentos em saúde e educação. Nesses últimos dias, meu mau velhinho fez uma grande perversidade: aumentou os preços dos combustíveis e do gás de cozinha. Pense em um pacote de maldades gostoso! Como muitos do meu país, fiquei calado, aceitei tudo acomodado. Somente um grupo de caminhoneiros teve a coragem de fazer paralisação deixando o meu mau velhinho presidente perturbado. Fiquei com dó dos caminhoneiros. Para mostrar minha solidariedade, escrevi no perfil do meus status das redes sociais: "Somos todos caminhoneiros".
Porém, minha solidariedade durou pouco. Quando começou a faltar gasolina nos postos fiquei desesperada. Fui logo em um posto, passei muitas horas em uma grande fila para colocar combustível de quase sete reais. Pense na emoção! Quando eu sentia o cheiro daquela gasolina cara entrava em êxtase, sentia-me orgulhoso de ser um sofredor. Aliás, sofrer não é problema. Já estou acostumado e conformado. Desde criança aprendi com meu líder religioso que "o pobre tinha que sofrer aqui na terra para poder ganhar o reino do céus". Costumava dizer ainda: "Pobre nasceu pra sofrer. Seu sofrimento era vontade de Deus".
Portanto, não tenho nada do que reclamar. Por acaso, protestar vai resolver alguma coisa? Prefiro fazer de conta que tudo vai bem. Na verdade, confio no meu mau velhinho presidente que disse que iria colocar o meu país nos trilhos. Enquanto isso não acontece, vou deixando a vida me levar. Aliás, não estou preocupado com o destino do meu país. Eu quero mesmo é mais sofrimento, porque eu tenho orgulho de ser: Brasileiro, sofredor e acomodado.

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Lúcio Rufino Pinheiro

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