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quarta-feira, 13 de junho de 2018

DEUS NÃO TEM CONTRATO EXCLUSIVO COM NENHUMA INSTITUIÇÃO RELIGIOSA

Percorridos mais de dois milênios de caminhada do cristianismo, atos de discórdias, de divisões, discordâncias e guerras em nome da fé, procedimentos contrários aos ideais evangélicos e cujas consequências perduram até hoje, tiveram relevância na vida dos cristãos, conduzindo-os a tornarem-se indiferentes na construção de uma "humanidade nova".
É preciso fazer um caminho novo em busca da superação das divisões, procurando viver a unidade na diversidade, respeitando as crenças do outro. O Apóstolo Paulo, com seu exemplo, nos ensina a vencermos os preconceitos, estando abertos para aceitar as diferenças. Escrevendo à comunidade de Corinto, testemunha sua disposição e capacidade de se relacionar com o diferente: “Com os judeus, comportei-me como judeu, com os que estavam sujeitos à lei, comportei-me como estivesse sujeito a lei. Com aqueles que vivem sem a lei, comportei-me como vivesse sem a lei...Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar algum a qualquer custo” (1Cor 9,20-21.23).
O amor é o caminho do diálogo e do respeito, que nos leva a agir por atitudes de cooperação e não de competição. O ódio e a intolerância são mecanismos de divisão. Paulo adverte: “Mas, se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, tomem cuidado! Vocês vão acabar destruindo-se mutuamente” (Gl 5,15). Esse amor opõe-se ao orgulho, aos interesses pessoais, ao rancor (Cf. 1Cor 13, 4-5), é capaz de transformar realidade de morte em vida (Cf. 1Jo 3,14). O orgulho rebaixa, prostitui a dignidade do homem, tornando-o indiferente, incapaz de comunicar-se e de se entender com os demais (Cf. Gn 11,4.7). Somente quando nos deixamos guiar pelas manifestações do Espírito de Deus, passamos a nos entendermos (Cf. At 2,6), apesar das diversidades (Cf. At 2, 9-11). A Igreja é chamada a experimentar a experiência de Pentecostes (diálogo-compreensão) e não a de Babel (caos-divisão).
A ignorância religiosa conduz indivíduos a se julgarem possuidores da verdade, negando qualquer diálogo ou questionamentos. Nesse sentido, é preciso que algumas crenças sejam revistas, questionadas e modificadas. É necessário mudarmos o conceito reducionista sobre Deus. Deus não mantém contrato exclusivo com nenhuma instituição religiosa, mas com todo um povo que por Ele é escolhido (Cf. Sl 33,12) e formado (Cf. Is 43,21). Seu amor é revelado para toda a humanidade (Cf. Jo 3,15). O seu Espírito manifesta-se em todo o universo (Cf. Sb 1,7), e não apenas em alguns. A Bíblia conta que na caminhada do povo de Deus pelo deserto, um jovem comunicou a Moisés que dois homens que não estavam na tenda da reunião, tinham recebido as manifestações do Espírito. Indagado por Josué a proibi-los, respondeu: “Você está com ciúme por mim? Oxalá todo o povo de Javé fosse profeta e recebesse o Espírito de Javé” (Nm 11,26-29). Da mesma forma, os discípulos de Jesus queriam reduzir e manipular sua missão, proibindo aqueles que não faziam parte do seu grupo de exercer uma ação libertadora: “Mestre, vimos um homem que expulsa demônios em teu nome, mas nós lhe proibimos, porque ele não nos segue (Mc. 9,38). Jesus não quer que o grupo dos seus seguidores se torne fechado, por isso repreende-os dizendo: Não lhe proíbam, pois ninguém faz um milagre em meu nome e depois pode falar mal de mim. Quem não está contra nós, está a nosso favor” (Mc 9, 39-40). Há o perigo de nos fecharmos em "nossas verdades", como fez a Igreja de Laodicéia: “Sou rica! E agora que sou rica, não preciso de mais nada” (Ap 3,17).
A arrogância impregnada em certas instituições religiosas é perigosa, pois acaba por negar o valor da religião do outro. Nenhuma instituição religiosa deve ser considerada a única possuidora dos meios da salvação. Nesse sentido, a ideia de que para ser salvo é preciso "converter-se a minha Igreja", não é verdadeira, uma vez que Jesus não é de posse particular de nenhuma denominação religiosa, mas Ele é o caminho, a verdade e a vida (Cf Jo 14,6), porta que conduz à vida (Cf. Jo 10,9-10), Luz (Cf Jo 8,12), modelo de pastor (Cf. Jo 10,11) e mediador (Cf. 1Tm 2,5) para a salvação de todos aqueles que nele depositam sua confiança (Cf. At 16,31;1Tm 1,15) e não unicamente de uma classe considerada privilegiada. Fechar-se em um mundo de relações estreitas, não convém ao cristão. O cristianismo é antes de tudo diálogo (Cf. At 15,1-29), acolhimento (Cf. Rm 14,1), convivência que nos torna irmãos.
Portanto, Deus não assinou contrato exclusivo com nenhuma instituição religiosa para que seus adeptos tenham a petulância de descriminar, ridicularizar e desrespeitar quem acredita de um modo diferente. A intolerância é cega, medíocre e perigosa. O respeito é a mensagem que os cristãos precisam propagar. O respeito ao outro que tem uma religião diferente é um testemunho contra todos que acreditam que a competição, a concorrência, o individualismo, as divisões terão a definitiva palavra.

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Lúcio Rufino Pinheiro

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