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quarta-feira, 13 de junho de 2018

ENCONTROS QUE TRANSFORMAM

“Vem meu amado, vamos ao campo, pernoitemos nas aldeias, madruguemos pelas vinhas, vejamos se a vinha floresce, se os botões se abrem, se as romeiras florescem: lá te darei meu amor” (Ct 3,7-13).

A vida é construída a partir da dinâmica do encontro. Alguns desses encontros são duradouros, outros passageiros. Há encontros que são marcantes e outros que são insignificantes. Para mim, todo encontro é carregado de uma experiência de aprendizagem. As pessoas que encontramos nas vielas da vida, quando são movidas por nobres sentimentos, nos deixam marcas eternas.
Todo o encontro é transformador. Por este contato com o outro, já não somos mais os mesmos, deixamos algo de nós e adquirimos algo do outro. Segundo Exupéry, “aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”.
O encontro torna-se o espaço propício da dádiva, da alegria, da gratidão, do diálogo, da partilha de ideias e sonhos. O estar "com" e "para" o outro nos cura de uma relação egoísta, mesquinha, nos torna mais sensível. Acredito que quem passou pela travessia da sua história indiferente ao outro, não pode afirmar que viveu, mas que apenas existiu. Viver implica criar relações conjuntas, é ser capaz de amar.
A razão pela qual muitas pessoas vivem infelizes, angustiadas, está numa não descoberta dessa capacidade de amar e ser amado.
Por que muitos têm medo de amar? Amar exige conhecer. Ninguém pode amar o que não conhece. Já dizia os latinos: ignoti nulla cupido (não se deseja o que não se conhece).
Amar exige revelação, mostrar o que realmente somos, implica em tirar as máscaras que impedem as pessoas de nos conhecerem.
Vivemos muitas das vezes cobertos por um "véu de fantasias". Acabamos criando uma imagem imaginária de nós mesmos para nos "apresentarmos" diante dos outros. Acabamos construindo uma vida a partir do que outro pensa sobre nós.
No palco da vida não podemos ser "atores", representadores, mas "autores", pessoas capazes de determinar seu próprio caminho, sendo do jeito que somos.
Temos medo de dizer quem de fato nós somos. Por isso, preferimos fugir de nós mesmos e dos outros. Preferimos criar "atalhos" na vida, do que enfrentarmos os caminhos longos e árduos da existência.
O homem é um fugitivo de si mesmo. Essa é a sua grande derrota, podendo não chegar a lugar nenhum. O medo de revelar-se para o outro contribui para se construir relações superficiais, descartáveis, sem compromissos, nos introduz na construção de um "homem" frustrado, sem valores afetivos.
O homem moderno vive em um grande dilema: escolher entre o que é nobre e aquilo que é vantajoso. A busca pelo que é nobre, virtuoso, acarreta muitas das vezes em sacrifícios, esforços, em ausência de prazer, em renúncias, e isso poucos querem abraçar. Há uma maior opção por aquilo que é mais vantajoso.
É possível perceber isso nitidamente nas relações afetivas, quando se busca apenas ter um contato com pessoas que sejam "úteis", quando se vive um amor na passividade. Nas amizades não é muito diferente, muitos passam a viver mergulhado numa "autofilia" (amizade a si mesmo).
Estou convencido de que ninguém pode viver fechado em si mesmo e ser feliz. Somos seres de relações, o que nos difere dos outros seres. É impossível viver sozinho. Encontramo-nos e convivemos em um mesmo habitat que nos proporciona a uma abertura para o diálogo, para o conhecimento e acolhimento do outro.
É na amizade, atividade tão nobre, que aprendemos a enfrentar as dificuldades juntos, “de fato, se um cai, poderá ser levantado pelo companheiro. Azar, porém, de quem está sozinho: se cair, não terá ninguém para o levantar” (Ecle 4, 10).
Onde reina o individualismo não há amor, amizade. Egoísmo e amor não dão frutos quando plantados num mesmo terreno, o coração. Fomos criados para amar. Não existe ser humano que não aspire ao amor.
O amor é divino e humano. Amar, nos lança numa experiência transcendental. Não existe relação de amor, sem o derramamento do perfume da amizade, do carinho, da entrega incondicional, que contagia o ambiente do coração.

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Lúcio Rufino Pinheiro

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