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quarta-feira, 13 de junho de 2018

IGREJA UNIVERSAL: DO REINO DE DEUS???

De tanto ouvir falar da Igreja Universal do Reino de Deus, decidi, juntamente com um amigo, fazer uma visita à “catedral da fé” ( templo maior da “Universal” nas regiões metropolitanas). Fui com o intuito de conhecer um pouco mais sobre este fenômeno religioso. Chegando ao templo, fomos bem acolhidos pelos obreiros (as), jovens, senhores e senhoras bem trajados, que me fizeram lembrar os funcionários do Shopping Center; recebemos a oração ungida do salmo 91 para que colocássemos no local da nossa enfermidade. Envolvidos por uma música alegre, em rít
A “sessão” (nomenclatura própria das religiões afro-brasileiras) tinha a seguinte estrutura: Música – oração – oferta. A cada oração as pessoas eram motivadas a fazer uma oferta em dinheiro (não menos de dez reais). Segundo o “pastor” só receberia a bênção quem desse o seu tudo. Não tínhamos dinheiro, mas os que tinham, depositavam no altar ou sobre o “pastor” (uma das cenas mais fortes que presenciamos. O “pastor” usando uma capa preta. Enquanto orava as pessoas colocavam dinheiro sobre ele). Testemunhamos pessoas pobres que depositavam todo o seu dinheiro com a esperança, prometida pelo “pastor” dirigente daquela sessão, de que Deus retribuiria em dobro. Ao presenciar esta “cena”, (uso a palavra cena porque parece um teatro) fiquei a pensar: Onde estou? Numa igreja ou numa casa de comércio? Quem são esses homens que prometem a prosperidade imediata para essas pessoas, são de fato pastores? Mas, o modelo de pastor proposto por Cristo é este?
Para esclarecer esses questionamentos recordei-me de duas passagens bíblicas. Uma referente ao templo e outra relacionada figura do pastor. A primeira é aquela que Jesus diz: “Tirem isso daqui! Não transformem a casa de meu Pai num mercado” (Jo 2, 16). A outra passagem bíblica é de Jo 10, 12-13, onde está escrito: “O mercenário que não é pastor, e as ovelhas não são suas, quando vê o lobo chegar, abandona as ovelhas. O mercenário foge porque trabalha só por dinheiro e não se importa com as ovelhas”. Sem comentários. Já diz o ditado: “Para um bom entendedor, meia palavra basta”.
Quanto à teologia pregada naquela sessão da Igreja “Universal” merece comentário. Percebi que o “pastor” tinha pouca formação teológica, pois não sabia nem se quer qual era a passagem bíblica do Bom Pastor. Em outro momento, chegou a fazer a seguinte afirmação: “Não confie em quem está ao seu lado. Todos querem seu mal, inclusive as pessoas de sua casa, de sua família”. Em algo o pastor tinha razão: não podia confiar nele, pois era um dos que estavam mais próximo de mim. As palavras proferidas pelo “pastor” são portadoras de sentimentos de desconfiança, tão presentes nos dias atuais.
Outra pregação do “pastor” deixou-me inquieto. Aos gritos, dizia: “Deus, você tem que fazer o milagre!”. Tais palavras ressoadas tocaram meu senso de humor, levando-me a sorrir interiormente. Como o “pastor” era cearense (ceará, estado marcado pela presença de grandes humoristas) pensei: quem sabe não é uma anedota. Estava errado. Por várias vezes repetiu a mesma expressão.
Penso que a mensagem do “pastor” não condiz com a teologia cristã. Esta reconhece que tudo o que recebemos é dom de Deus. Deus não é obrigado a realizar aquilo que não é de sua vontade. Pensa como o “pastor” quem acredita num deus manipulável. Não podemos fazer de Deus um “ídolo”, objeto de nossos caprichos. Não foi assim que Jesus nos ensinou a dirigir orações ao Pai. Pelo contrário, Jesus diz que deveríamos orar assim: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6, 10b). Jesus também rezou ao Pai diferente da oração daquele “pastor” da universal: “Meu Pai, se é possível, afasta-se de mim este cálice. Contudo, não seja feito como eu quero, e sim como tu queres” (Mt 26, 39b).
Quando lembro-me da oração proferida pelo “pastor”, não posso deixar de concordar com aquilo que disseram os apóstolos Paulo: “Nós não sabemos orar como convém” (Rm 8, 26) e Tiago: “E vocês pedem, mas não recebem, porque pedem mal, com intenção de gastar em seus prazeres. Idólatras! Vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo é inimigo de Deus” (4, 3-4). Eis um questionamento: Em que acredita a Igreja Universal “Teós” ou “mamon”? É no Deus cristão ou no deus produzido pelo sistema capitalista?
A cobiça de possuir é uma idolatria (Cl 3, 5) que precisa ser exaurida de toda e qualquer prática religiosa disfarçada de cristianismo. A piedade cristã coloca Deus acima de todas as coisas passageiras deste mundo. Vejamos o que aconselhou o apóstolo Paulo ao bispo Timóteo: “É isso que você deve ensinar e recomendar. Pois, quem ensina coisas diferentes, que não concordam com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensinamento conforme a piedade, é cego, não entende nada, é doente à procura de discussões e brigas de palavras... Eles supõem que a piedade é fonte de lucro. De fato, a piedade é grande fonte de lucro, mas para quem sabe se contentar. Pois não trouxemos nada para o mundo, e dele nada podemos levar. Se temos o que comer e com que nos vestir, fiquemos contentes com isso. Aqueles, porém, que querem tornar-se ricos, caem na armadilha da tentação e em muitos desejos insensatos e perniciosos, que fazem os homens afundarem na ruína e perdição. Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Por causa dessa ânsia de dinheiro, alguns se afastaram da fé e afligem a si mesmos com muitos tormentos” (1Tm 6, 2b-4a.6-10).
imo do axé baiano, fomos convidados, após uma oração de cura e libertação, a fazer uma oferta.

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Lúcio Rufino Pinheiro

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