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quarta-feira, 13 de junho de 2018

MINHA CASA, MEUS VALORES


Parede sem reboco, piso de barro batido, fogão a lenha, armador de rede, silo de legumes, tamborete, ancoretas, sela, cangalha, inúmeras cobras, assim era a casa onde passei bom tempo da minha infância, localizada no sítio Araras, município de Luís Gomes-RN.
Vivíamos uma vida simples: sem energia elétrica, sem TV, sem telefone, sem rádio a pilha. Nossa comida não tinha muito requinte: feijão (quando tinha um bom inverno ou quando o governo dava uns grãos que passavam um “século sem fim” para cozinhar), arroz, carne (algumas vezes) angu de milho, mungunzá, ovo (rezávamos para a galinha botar um ovo). O melhor dia que comíamos era quando chegava uma visita da cidade. Minha mãe matava uma galinha caipira, fazia macarrão e comprava um refresco (cajuína) para as crianças e um “cinzano” (espécie de vinho) para os adultos. Meu café da manhã, quase sempre era apenas “bolacha comum” que a mãe trazia da cidade ou cuscuz de milho. Muitas vezes, nem dormia direito ansioso em comer as bolachas no dia seguinte. Biscoito ‘Cream Cracker’ era um produto que só aparecia quando alguém da família adoecia. Cana-de-açúcar e manga, também faziam parte do nosso cardápio do café da manhã. Acordava pela madrugada (4 horas) para colher as mangas antes que os animais chegassem. Quando escutava a pancada da manga caindo, corria alegre, como um desesperado. O lanche da tarde era um pedaço de rapadura com farinha ou fubá de milho. O jantar, quase sempre às 17:00hs, era o que sobrava do almoço.
E as roupas, brincadeiras e diversões? As melhores roupas que eu tinha eram doadas pelos primos que moravam em Mossoró e Natal. Uma vez por ano, na festa da padroeira, mãe comprava uma roupa nova. Minhas brincadeiras consistiam em: manja, cai no poço, passa o anel, pula corda, esconder-se, carro de lata. Minhas diversões eram: participar de cantorias, novenas religiosas, tocar triângulo em um forró pé de serra que tinha na casa da nossa vizinha. Belas recordações, belos dias!
Andei por vários lugares, morei em casas grandes e pequenas, ricas e pobres. Porém, aquela casa humilde da minha infância, nunca saiu de dentro de mim. Simbolicamente, essa casa sempre continuou erguida no terreno do meu coração.
Essa casa simples e as experienciais da infância continuam presentes na minha memória como lembranças positivas. Apesar das dificuldades, a minha casa foi o lugar onde experimentei momentos preciosos de felicidade. Minha casa tem sua importância, pois foi o berço onde aprendi valores essências para a minha vida. Com meu pai, com seu jeito simples, ensinou-me a virtude do trabalho, instruiu-me acerca da honestidade e do respeito para com todos. Minha mãe foi sempre um referencial de sinceridade, autenticidade, simplicidade e solidariedade. Ela ensinou-me as primeiras lições dos livros e da vida. Na sua cartilha, aprendi a soletrar a palavra obrigado. Na sua tabuada, aprendi a dividir, repartir, partilhar, a somar amizades e experiências positivas, a subtrair inimizades e experiências negativas. Na sua gramática, aprendi a conjugar o verbo amar. No seu catecismo, descobri a beleza de crer em Deus. No dicionário de minha mãe, minha primeira professora, aprendi que algumas palavras, como: humildade, simplicidade, caridade, gentileza, respeito e sinceridade, não posso deixar de escrevê-las no caderno da minha existência. Na minha casa simples, tinha a riqueza dos valores.
Recordando da minha casa e infância, vejo a importância de uma criança nascer e crescer em um lar onde a família tem como missão primordial cultivar valores essenciais para uma convivência sadia na sociedade. Uma casa de família, por mais simples que seja, tendo pais comprometidos com a educação dos filhos, torna-se útero gerador de pessoas equilibradas, honestas, respeitadoras e responsáveis.
A família é o maior patrimônio da humanidade. A ruína da família põe em risco a possiblidade de construção de uma sociedade melhor. Por isso, trata-se de uma necessidade urgente preservar a família como berço dos valores.

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Lúcio Rufino Pinheiro

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