E no dia seguinte, indo eles seu caminho, e estando já perto
da cidade, subiu Pedro ao terraço para orar, quase à hora sexta(horan
éketen). E tendo fome, quis comer; e, enquanto lho preparavam,
sobreveio-lhe um arrebatamento de sentidos. E viu o céu aberto, e que
descia um vaso, como se fosse um grande lençol atado pelas quatro pontas, e
vindo para a terra (At 10,9-10).
O meio-dia era a hora que todo piedoso judeu fazia sua
oração. Pedro, estando em oração, tem uma extraordinária experiência
espiritual: “viu o céu aberto”. O conteúdo da revelação que Pedro teve era
revolucionário. Deus mostra a Pedro que também os pagãos são destinatários da
salvação. O convite feito a Pedro para comer os alimentos (At 10,13) se tratava
de acolher os gentios na comunidade cristã sem obrigá-los ao cumprimento das
leis judaicas. Através dessa revelação, Pedro muda seu pensamento em relação
aos povos que não eram Judeus, pois Deus lhe mostrara que “a nenhum homem se
deve chamar de profano e impuro” (At 10,28).
Na experiência de Pedro, o meio-dia é rico de significado. É
a hora que se dar a comunicação de Deus com o homem. A oração é o canal que
possibilita o conhecimento dos desígnios divinos. O céu se abre quando voltamos
nossa mente e coração para Deus. Ao contemplarmos as realidades celestes somos
convidados a repensar sobre nosso modo de se relacionar com os irmãos. O
meio-dia torna-se a hora da transformação da nossa maneira de pensar e agir.
Quem faz a experiência orante, no meio-dia de sua vida,
passa a compreender como Pedro que “Deus não faz acepção de pessoas, mas que,
em qualquer nação, quem o teme e pratica a justiça, lhe é agradável” (At
10,34). A hora do meio-dia torna-se o tempo propicio da descoberta da
verdadeira face de um Deus que acolhe no seu plano de salvação todo aquele que
o busca de coração sincero.
As cenas bíblicas mencionadas e comentadas nos permite
compreender que o meio-dia não se refere simplesmente a um tempo cronológico,
mas é carregado de um significado teológico espiritual. O meio-dia não é
somente a hora mais quente do dia, mas a hora em que o coração do homem é
aquecido pela luz divina, proporcionando-lhe uma transformação em sua
vida.
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Lúcio Rufino
Pinheiro
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