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quarta-feira, 13 de junho de 2018

CELIBATO OBRIGATÓRIO: UMA INCOERÊNCIA COM A TRADIÇÃO E COM AS ESCRITURAS, UMA AGRESSÃO AO SER HUMANO EM SUA SEXUALIDADE

Em um grupo Católico das redes sociais, alguém fez a seguinte pergunta: “Você acha que os padres deveriam casar?”. Das centenas de pessoas que opinaram, a grande maioria formada por mulheres, respondeu ser favorável ao casamento dos padres. Porém, como a Igreja não é uma democracia (poder do povo), mas hierarquia (poder sagrado), o celibato obrigatório ainda continua sendo imposto sem ouvir os milhares de sacerdotes que deixaram o ministério para constituírem famílias.
O documentário italiano, “Homens Proibidos” (https://www.dailymotion.com/video/x3ipqek), apresenta o drama, angústia de muitos padres que deixaram o ministério, outros que vivem uma vida amorosa clandestina, outros que têm filhos e não podem registrá-los como seus. “Homens Proibidos”, apresenta ainda o sofrimento das “amantes” dos padres. Muitas delas foram abandonadas com seus filhos pelos “celibatários da Igreja”. Outras sofrem, porque seus companheiros não têm coragem de assumirem os compromissos da vida matrimonial, muitas vezes porque não querem perder os privilégios oferecidos pela Instituição Católica.
O drama desses homens que escolheram ou foram escolhidos por Deus para o exercício do ministério sacerdotal, pode ser constatado na vida real. Um jovem padre brasileiro, cuja identidade prefiro não revelar, escreveu uma carta ao seu bispo pedido para deixar o ministério, porque tinha engravidado uma moça. O bispo, sem nenhuma postura ética de respeito ou responsabilidade, disse para o jovem que não tinha nenhum problema dele continuar no ministério, desde que abandonasse a mulher e a criança. Infelizmente, essa postura do bispo de “fazer de conta que nada aconteceu” foi aplicada pela Igreja Católica Romana por muitos séculos. A Igreja, ainda hoje, prefere fazer de conta, pois não quer entender que o celibato obrigatório provoca inúmeros males para homens que se sentem vocacionados ao ministério sacerdotal, mas não para o celibato (duas realidades que devem ser vistas diferentes).
O celibato obrigatório não é um dogma (uma verdade de fé), mas uma norma disciplinar imposta pela Igreja durante os séculos com “intenções obscuras”. Não existe nenhuma justificativa bíblica ou teológica para imposição do celibato. A castidade é uma obrigação para todos. Porém, o celibato deve ser uma opção, pois nem todos têm o dom para a vida celibatária (Cf. 1Cor 7,7). Eis a recomendação de Paulo: “Mas, se não podem guardar a continência, casem-se, pois é melhor casar-se do que ficar abrasado” (1Cor 7, 8).
Se a Igreja Católica Romana defende tanto observar a Tradição, deveria ser coerente com a experiência cristã da Igreja nos primeiros tempos. Na Igreja primitiva, os apóstolos eram casados (exceto João). Pedro, considerado o “primeiro papa”, era casado (Cf. 4,38 ) e levava sua esposa nas viagens missionárias (Cf.1Cor 9,5) (o que mostra que não há oposição entre missão e casamento). Na Igreja primitiva, algumas exigências eram feitas para quem aspirava assumir a função de epíscopo (entendido hoje como bispo), a saber: ter uma esposa, ter habilidades para cuidar da própria casa e educar os filhos: “É preciso, porém que o epíscopo seja irrepreensível, ESPOSO DE UMA ÚNICA MULHER, sóbrio [...]. Que ele SAIBA GOVERNAR BEM A PRÓPRIA CASA, MANTENDO OS FILHOS NA SUBMISSÃO, com toda dignidade. Pois, se ALGUÉM NÃO SABE GOVERNAR A PROPRIA CASA, como cuidará da Igreja de Deus?” (1Tm 3, 2.4-5) (destaques nossos).
Hoje, quando me sinto livre para pensar e escrever, confesso: Por alguns anos fui religioso e exerci o ministério sacerdotal. Uma das coisas que mais me deixava triste era a “solidão do coração”. Sou testemunha de que muitos tinham o dom da castidade e eram coerentes. Outros, porém, não tinham condições humanas para guardar o celibato, mas continuam porque preferem viver na incoerência, não são corajosos suficientemente para renunciarem as muitas comodidades oferecidas pela Instituição religiosa.
Por mais rígida que possa ser a formação de um padre, a mesma não é suficiente para que uma pessoa possa viver de forma tranquila sua sexualidade, pois se trata de uma dimensão intrínseca ao ser humano. Como humanos, sentimos desejos de compartilhar a vida com alguém, de amar e ser amado. Todo sistema religioso de repressão à sexualidade pode gerar pessoas desequilibradas. O lugar por excelência da vivência de uma sexualidade equilibrada é o matrimônio. O padre não vai deixar de ser menos santo, puro, homem de Deus, caso venha a casar e construir família.
Portanto, o celibato obrigatório precisa ser repensado para o bem da própria Igreja. Precisa ser repensando por duas razões: por não deixar de ser uma agressão ao ser humano na sua sexualidade e por uma questão de coerência com a Tradição da Igreja e com as Escrituras.

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Lúcio Rufino Pinheiro

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